terça-feira, 22 de setembro de 2009

Me Esqueci de Novo



E agora?.. terei que estudar novamente o Hino Nacional. Logo agora que pensei não precisar mais cultuar o amor à minha pátria, me vem essa lei que me obriga a cantar ele.
Não é justo!
Assim devem estar pensando várias pessoas no país após a aprovação da lei que obriga as escolas públicas e particulares a cantarem o Hino Nacional pelo menos uma vez por semana.
Que mal há nisso?! Precisamos sim, cultivar esse amor pela nossa nação, e o hino nos faz refletir sobre ela.
A dificuldade está acredito, na falta de informações referentes a algumas palavras que não são usuais, pois a letra foi escrita no século dezenove e com o tempo realmente algumas palavras caem em desuso.
Precisamos despertar de verdade o patriotismo, pois ele é necessário até mesmo por questão de sobrevivência diante de fatos que a história já nos mostrou. Territórios invadidos por grandes “tubarões” e sem que o seu povo despendesse nenhuma reação.
Lembro-me quando estudante de ginásio todas as segundas-feiras tínhamos que hastear a bandeira e nosso diretor, professor Aldo, sempre à frente puxando o hino e eu o acompanhava em seu movimento de boca e tentava reproduzi-lo, até que um dia ele me disse que eu puxaria o hino da semana seguinte. Fiquei feliz e nervoso ao mesmo tempo, corri para casa para ensaiar com o hino na mão, uma semana que parecia um dia, não tinha mais tempo para nada a não ser ler o hino.
No esperado dia estava eu lá nervoso e com o hino todo amassado na mão, lembrando de algumas estrofes que sempre me confundiam à cabeça. Meu Deus! Ele me olhou e me chamou para frente para puxar o hino. Tremia muito e tentava disfarçar as frementes mãos que insistiam em não ficar escondidas, mas .. ali estava eu para cumprir a minha missão que tanto me preparei. Li tanto o hino que para variar fui estudar o hino da Bandeira Nacional e o mesmo, também eu já estava craque.
Na primeira estrofe, muito bem! Todos acompanhando perfeitamente. O problema é que como  disse Carlos Drummond, havia uma pedra no caminho, ou melhor; havia um raio vívido na segunda estrofe e então comecei:
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul

Quando eu olhava para meus colegas, estavam todos estupefatos, percebi então que tinha trocado as letras do Hino Nacional com o Hino da Bandeira, que vergonha! Antes fosse a primeira versão do hino que não usava a palavra “seio”, ou até mesmo a versão na língua Tupy. E então aconteceu o que temia: o riso. A gargalhada se espalhou e após o silêncio clamado pelo diretor pedi para recomeçar e ele com toda benevolência aceitou o meu pedido, e assim fizemos o hino novamente e todos aplaudiram ao final. Fiquei feliz e ainda por cima ganhei "moral" com o diretor. A partir dali nunca mais esqueci o hino (que pena cantora!..), e descobrir o quão bonito e elevador de auto-estima ele é.
Bom, seguindo. Na sala de aula tinha um dos “gargalhadores” – termo usado no teatro para designar pessoas que riem em momentos trágicos, e ele então me pediu para ensiná-lo a letra do hino para que copiasse, pois a professora queria que ele cantasse o hino na sala e eu prontamente disse: Ih! Me esqueci de novo.

Nildson B. Veloso
Arte-Educador