sexta-feira, 10 de julho de 2009

A REALIDADE E A FICÇÃO

Às vezes ficamos a pensar como uma determinada personagem pode ser tão maquiavélica dentro de uma obra ficcional. Será que ela se mostraria assim dentro de uma realidade? Difícil responder a isso. Pois, somos constituídos de diversas formas de pensares que sinceramente não me surpreenderia se alguns de nós tivessem atitudes que nos deixassem tontos naquele momento.

A obra de Nelson Rodrigues já foi acusada de nos mostrar uma realidade grotesca e exagerada do ser humano. Se considerarmos que a arte imita a vida, logo veríamos o quão somos torpes e cruéis dentro de alguns universos dramatúrgicos. Logo então nos indignamos com nós mesmos. Como eu seria capaz de cometer esse ou aquele ato com o meu próximo?! Exclamariam alguns. Será que a ficção tem o direito de expor as nossas mazelas?

A ficção para alguns foi criada para nos transportar da nossa realidade, para que possamos sonhar com as utopias. Para outros não, a ficção existe para que possamos refletir as nossas vidas e os nossos atos e tentar de alguma maneira melhora-los ao reconhecê-los.

O fato é que estas formas existem para que nós as vivenciemos conforme as nossas histórias de vida e convicções. Portanto, a ficção cumpre o seu papel quando nos faz pensar de alguma maneira naquilo que estamos prestando atenção. Ela nos prende sempre, mesmo que no primeiro momento pareça menos interessante para nós. Ela sempre levará alguma vantagem em relação à realidade, pois, poderemos nos desligar da ficção a qualquer momento, enquanto que a realidade dura, cruel, boa, feliz, triste etc, não terá esta possibilidade de abandono.

Muito interessante seria viver a ficção durante a maior parte da vida não é mesmo? Poderíamos recriar uma realidade que as nossas convicções indicassem, e provavelmente iríamos ser muito mais felizes, mesmo sendo esta realidade uma ficção. Mas, e daí? O que as difere está justamente no nosso ponto de vista

TELETEATRO - O RETORNO

Um dos fatos que marcaram minha infância foi o de ter visto, pela primeira vez, uma cena de novela, lá pelos anos 70. Em tal cena, havia uma menininha numa cadeira de rodas com aquele ar de sofrimento. Me senti muito triste ao vê-la naquela cadeira. A novela era Fogo Sobre Terra e a atriz era Rosana Garcia. Anos depois, descobri que aquela situação era tudo de faz-de-conta. Fiquei muito confuso, pois como uma pessoa conseguia fingir tão bem? Ainda mais uma criança! Minha mãe então me explicou que aquilo era novela e que era tudo de mentirinha. Até então eu pensava, lá com minha cabeça de infante, que o nome “novela” se referia ao horário “nove”. E foi desde então que comecei a gostar daquelas mentiras que contavam pra gente na televisão. Aquilo era muito bom! Bem mais tarde, já na minha adolescência, passei a cultuar o gosto pelo fazer aquela “mentira permitida” e, mesmo sem ter alguém na família com algum passado na área, comecei a pensar que era aquilo que queria fazer: Teatro! A imagem daquela menininha (Vivi) não me saía mais da cabeça. Caso pensado, decidi estudar teatro com o intuito de fazer aquilo que eu via todas as noites em minha casa. Ainda na faculdade, comecei a pesquisar sobre a interpretação televisiva e então cheguei até o teleteatro. Maravilha! Era tudo que eu procurava: o fazer televisão com a linguagem teatral. Passada a euforia, percebi que o teleteatro era uma expressão artística praticamente morta. Não se tinha mais notícia no país desse fazer. Mas como as coisas ganham força quando elas têm que acontecer, então, eis-me aqui, trabalhando na TV Anísio Teixeira, coordenando o programa Teleteatro, numa retomada do hibridismo teatro-televisão, que nos proporcionará um retorno a essa indispensável e interessante forma de contar histórias.
Nildson B. Veloso.